BOLINHO CAIPIRA - cultura imaterial do Vale do Paraíba

No Brasil, as festas populares são manifestações culturais presentes em todo o território nacional, podendo ser religiosas ou exclusivamente culturais, e têm como princípio manter as tradições que foram conservadas na memória coletiva. (Paiva Moura, 2001)
As manifestações culturais, religiosas ou não, quando somadas a serviços turísticos, isto é, toda uma cadeia de bens e serviços, tais como: mão de obra, guias prestadores de serviços, agências, guias etc., tornam-se produtos turísticos, transformando o cenário da localidade, induzindo assim a prática do turismo (Beni, 1997).
De acordo com a Organização Mundial do Turismo – OMT, 2003 entende-se Turismo como as atividades realizadas pelas pessoas durante suas viagens e estadas em lugares distintos do seu entorno habitual, por um período consecutivo, inferior a um ano, por lazer, negócios e outros. A palavra deriva de tour, do latim tornare e do grego tornus, cujo significado é giro ou círculo. Turismo seria, portanto, o ato de partir e posteriormente regressar ao ponto inicial, sendo que o realizador deste giro é denominado Turista.
O Turismo Cultural é um segmento turístico onde se ressalta a apreciação de manifestações culturais de expressão originárias do povo, da massa, erudita, urbana, rural, nativa nas modalidades artísticas e que demonstram emoções artísticas, científicas, de formação e informação ( Vaz, 1999).
Uma região deve preservar sua cultura, e um dos meios para isso é através da culinária, que demonstra hábitos e costumes de um povo. O bolinho caipira, produto típico do Vale do Paraíba, ainda é pouco visto e trabalhado como produto associado ao turismo, e que pode ser uma valiosa ferramenta para o desenvolvimento econômico na atividade turística. É encontrado nas tradicionais festas da região e em nenhum outro lugar do Estado de São Paulo, tornando-se um forte símbolo nas tradicionais festas juninas e julinas de rua. No entanto, ainda não existem políticas públicas eficazes que permitam sua disseminação nas festas de rua durante todo o ano, o que aumentaria o potencial turístico dessas regiões, fornecendo uma fonte de renda extra para as famílias envolvidas no processo de produção e comercialização do mesmo.

Produção Associada ao Turismo
Segundo o Ministério do Turismo, MTUR (2003), toda e qualquer produção que seja artesanal, industrial ou agropecuária que tem origem natural ou cultural que identifique uma localidade ou uma determinada região são considerados produtos associados ao turismo, pois são valores e sabores que compõe a riqueza brasileira e investindo em seu diferencial são capazes de aumentar sua competitividade.
Sugere ainda, que a produção associado ao turismo seja uma maneira de identificar e destacar segmentos econômicos de uma região como forma de ampliação da oferta turística, dentre elas destaca-se a culinária tradicional do destino turístico como meio de perpetuação da cultura regional.
A produção agropecuária aliada ao aprimoramento de produto que identifique a cultura de uma região é sem dúvida, um segmento econômico dentro de uma atividade turística que dinamiza a cultura regional e seus atores, aumentando assim o auto estima deste povo como também preserva tua história, tornando-se assim uma atividade econômica sustentável, já que integra estes grupos envolvidos desde a produção até a comercialização destes produtos.
No caso da região Valeparaibana, o produto que identifica a sua cultura é o “bolinho caipira”, forma como é conhecido em toda a região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte.
 Sugere-se que tenha origem indígena, da tribo dos índios puris (grupo indígena que habitou a região sudeste).
O bolinho caipira não tem origem certa, sabe-se apenas que foi atingindo todo o Vale do Paraíba através do “boca a boca” por gerações, através das trocas de receitas entre familiares e amigos.
Rural (2011), jornalista e estudioso da cultura caipira desta região, cita em seu livro resumidamente:



Conversas acalorada elevam um simples bolinho de
farinha ao assunto mais comentado da cozinha caipira valeparaibana.
E, como sempre, as opiniões são de que sua origem é dessa
ou daquela cidade.
Definições que acabam se perdendo, pois todos querem dizer que fazem o melhor.
Deixando as divergências de lado, o bolinho pode ter nascido até por acaso. É sabido que nos séculos passados a escassez de alimento era notória. Então alguém enjoado dos pirões de farinha, resolveu amassar um punhado e assar. E ficou bom. Depois resolveu fritar. Lógico ficou melhor ainda. Depois alguém resolveu colocar uns pedaços de carne no recheio, e o sabor melhorou.


Estufa cheia de bolinhos caipiras na festa Arraial Cultural de Natividade da Serra
Figura 1 foto Daniela Cassal - bolinho caipira- jun. 2010

O bolinho caipira expressa bem à identidade cultural desta região e revela-se também, quando se aprofundam os estudos, a existência desta culinária no cotidiano desta gente no passado e que muito está relacionado com as viagens dos tropeiros que tanto participaram da história e colaboraram no desenvolvimento econômico não só do Vale do Paraíba, como também do Estado de São Paulo.
A união de todo o contexto que envolve o bolinho caipira expressa memória e identidade e caracteriza elemento cultural que o torna patrimônio histórico cultural imaterial.
O Vale do Paraíba, hoje oficialmente chamado após o Projeto de Lei 66/2011, de Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte, apresenta potencial industrial e científico tecnológico, sendo importante força econômica do Estado e do país. Porém, em grande parte deste território ainda prevalece o meio rural, já sem a mesma expressão de produção como foi em séculos anteriores a este, o que resultou no declínio ou estagnação econômica de muitos dos seus municípios, sobrando como única saída para o crescimento, o investimento em turismo como atividade econômica alternativa.
Dentre vários processos para o desencadeamento do turismo, é necessária a formatação de produtos turísticos e o de forte conquista é a gastronomia local, principalmente aquela que preserva a cultura e história.
Segundo o Ministério do Turismo (2003)

Criação de produtos tematizados, utilizando técnicas de interpretação e de interação, que ressaltem a história do lugar, de seus personagens, para apresentar o Patrimônio tangível e intangível do ambiente visitado, de forma a ampliar o conhecimento, possibilitar a fruição e emocionar o visitante.

                                                          


Em toda a Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte é possível encontrar a presença desta iguaria da culinária em quermesses de igrejas como também em festas juninas ou julinas e são sempre muito disputados nestas festas, chegando a ser o prato principal, atraindo grande número de pessoas para apreciar teu sabor em diferentes variações de receitas, já que em cada município sofrem algumas alterações como o tipo de farinha de milho entre amarela e branca, variações nos recheios, podendo ser de carne bovina ou suína, lingüiça, peixe ou frango. Porém, a base da receita é sempre a mesma, a farinha de milho em flocos acrescentada de água quente sal e cheiro verde fritos em óleo quente.


Figura 2 Voluntária que participa dos trabalhos nas barracas beneficente,
durante o período das festividades do Arraial Cultural de Natividade da Serra
 jun. 2011 (foto Daniela Cassal )

             A produção e comercialização do bolinho caipira, pensando-se no fator econômico, deveria ser mais estimulada ao longo do ano todo e vendida em todos os estabelecimentos que comercializam alimentos prontos. Os produtos poderiam ser vendidos nas tradicionais vitrines aquecidas, as conhecidas “estufas de salgados”, presentes em balcões de padarias, bares, lanchonetes, postos de gasolinas ao longo das rodovias, como também espalhadas em “vendas” nos territórios rurais, sem falar do comércio informal de ambulantes que transitam com caixas térmicas vendendo salgados prontos de porta em porta, ação muito comum na região por pessoas de baixa renda ou recém desempregados que se utilizam desta atividade econômica como meio de sobrevivência.
Para isso, são necessárias políticas públicas que tornem o bolinho um patrimônio cultural, apoiem e incentivem fomentos direcionados à ele, como melhoramento de produto, fortalecimento, apoio e incentivo ao plantio e produção de derivados do milho e, finalmente,  agregando valor cultural  à este quitute regional.

Figura 3 foto Daniela Cassal - Festa de Santo Antônio jun 2010

O que se encontra nestas “estufas” na grande maioria das vezes são salgados a base de farinha de trigo, que não são um produto que possa ser o teu ingrediente base produzido na região com a mesma facilidade que pode se plantar milho, e isto estimulariam toda uma cadeia produtiva que envolvesse o grão.
Seria muito difícil precisar um número total de vendas de salgados à base de farinha de trigo nesta região, mas observando estes mapas abaixo e alguns dados de fluxos de veículos percebemos o grande mercado.



2.4- Localização da Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte

                1 – Mapa do Estado de São Paulo com destaque para a Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte.



2 Mapa dos Municípios que compõe a Região Metropolitana


 



Esquema das Principais Rodovias que cruzam a Região Metropolitana


Legenda das Estradas
  1. Rodovia Anchieta
  2. Rodovia Mogi-Bertioga 
  3. Rodovia Ayrton Senna
  4. Rodovia Carvalho Pinto
  5. Rodovia Presidente Dutra
  6. Rodovia dos Tamoios
  7. Rodovia Oswaldo Cruz
  8. Rodovia Paraty - Cunha
  9. Rodovia Barra Mansa - Angra dos Reis
  10. Rodovia BR 101 (Rio - Santos)
A Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte é cortada pela principal rodovia do país, a Rodovia Presidente Dutra,que segundo a Concessionária Nova Dutra,passam por hora em dias de grande movimento mais de 7500 veículos e segundo dados oficiais do DER,somam-se entre as outras cidades que compõe a região um volume diário de mais de 60 000 veículos.Com pouco estudo sobre este fluxo de veículos na região,já se pode perceber uma grande oportunidade de negócio
A farinha de milho em flocos é facilmente encontrada em estabelecimentos comerciais que vendam produtos alimentícios embalados, e o fácil preparo do bolinho caipira, faz com que qualquer individuo, mesmo que leigo na culinária, consiga prepará-lo. Porém, ainda se restringe a apenas uma época do ano, quando são realizadas as festas juninas e julinas tradicionais desta região, ocorrendo em praticamente todos os municípios.
O que o estudo tenta apontar é que o bolinho caipira, que é muito apreciado na região, não é visto como produto de potencial comércio durante todo o ano e que se fosse vinculado ao turismo, se agregaria valor cultural e econômico ao mesmo.
Alguns municípios mais atentos a este assunto realizaram pesquisas sobre o tema e vem tentando transformar, através de projeto de lei, o bolinho caipira em Patrimônio Cultural, fomentando e fortalecendo desta forma atividades turísticas com este produto como atrativo. Um exemplo disso, é a cidade de  Jacareí, que promove festivais com o bolinho caipira como tema.
Para que exemplos como esse se proliferem e realmente surtam resultados, são necessárias algumas atitudes, como políticas públicas voltadas neste sentido, tornando o bolinho patrimônio cultural, apoiando e incentivando fomentos direcionados ao bolinho caipira,como melhoramento de produto, fortalecimento, apoio e incentivo ao plantio e produção de derivados do milho e agregar valor cultural este quitute que tão bem representa esta região.
Espera-se que o poder público se atente sobre a relevância do tema, passando a ver o bolinho caipira como forma de promover o desenvolvimento econômico na atividade turística da região, sem que se comprometa a identidade cultural do Vale do Paraíba e fortalecendo os aspectos culturais deste povo. 
Estudos já demonstram a necessidade de políticas públicas para o turismo mais avançadas e que sejam eficazes.
DANIELA CASSAL
Turismóloga



RECEITA BÁSICA DO BOLINHO

INGREDIENTES
MASSA:
1/2 kg de farinha de milho amarela
1 l e 1/2 de água
2 cubinhos de caldo de carne
4 colheres de sopa de óleo
2 colheres de sopa de farinha de mandioca

RECHEIO:
1/2 kg de carne moída
Cebola picada, alho amassado
Salsinha e cebolinha picadas
Sal e pimenta do reino, a gosto

MODO DE PREPARO

MASSA:
Em uma vasilha junte as farinhas, vá misturando-as e desmanchando todos os grumos
Adicione o óleo e reserve
Ferva a água com o cubinho de caldo de carne
Derrame sobre a farinha aos poucos e misture bem, mexendo sempre até que a massa fique homogênea
Separe uma pequena porção da massa, e achate-a na palma da mão
Coloque dentro um pouco do recheio (carne temperada crua) e feche com a própria massa dando o formato de um bolinho compridinho
Feitos todos os bolinhos, frite-os em óleo quente
Escorra-os em papel absorvente
Sirva-os quentes
OBS DO RECHEIO:
Misture todos os ingredientes e utilize a carne bem temperadinha "crua", pois se refogar antes fica seco